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quarta-feira, 18 de junho de 2008

MINISTÉRIO: UMA REFLEXÃO PARA OS DIAS DE HOJE

Tenho seriamente pensado neste dias sobre a questão do que realmente significa ministério. Boa parte dos que recebem o chamado de Deus para realizar alguma tarefa em prol do cristianismo está convicto que Deus o designa a desenvolver uma tarefa específica.

Por mais que isto seja uma realidade, a visão quanto o que se significa ministério ficou mutilada neste últimos tempos. Se o chamado nos conduz a cumprir o que denominamos de ministério, creio que é seriamente necessário rever não somente o conceito como a questão prática da atividade de todo o pastor na condução do povo de Deus .

Em primeiro lugar ministério significa no conceito bíblico serviço prestado a Deus ou às pessoas e busca como alvo a edificação do povo almejando maturidade como bem expressa Paulo em Efésios 4:7-16. A partir desta premissa, vejo que realmente o conceito e a ação prática, nos dias de hoje, foram totalmente descaracterizados do fiel significado e da incumbência que o ministério se destina.

Poderia se dizer que por definição, muitos têm no ministério o serviço prestado pela igreja e igreja como instituição. Cabe a instituição servir da melhor forma possível os seus vocacionados, não com o que é plausível da necessidade e dignidade, mas das inconveniências e extravagâncias do que dela se pode tirar. Por isso, o serviço “prestado a Deus” se torna legitimado em sua definição como à proposta do que ela (igreja) tem a oferecer. .Servir não está nem conceitualmente e nem na prática no dicionário sacerdotal de muitos que conduzem à Grei. Aliás, a regra é se servir e ser servido.

Mas o que tem levado os ministros de Deus enveredar por estes caminhos de desequilibro quanto suas responsabilidades em servir a Deus e edificar a igreja? O orgulho, prepotência e incensatez têm sido as vertentes que regem o coração de muitos. Prestam-se a se colocar como deuses intocáveis e fazem do povo sua massa de desejos e satisfação sem nenhum sentimento de culpa ou de erro. A igreja se torna o lugar não de salvação, remissão, perdão e comunhão, mas de angústia, sofrimento, desgosto e alienação de muitos, sem falar na desilusão total de outros que se re-conduzem para o reino das trevas. Quando Phillip Yancey testifica que apesar do que ocorre na igreja ainda continua cristão pode-se perceber a magnitude da declaração. Sua declaração emite simplesmente uma realidade de dois lados: a degradação da identidade do Corpo e a luta dos que formam o Corpo em permanecer fazendo parte do Corpo. O pior disto, que há uma sensação de impotência em muitos que fazem parte deste Corpo, por não ter como re-correr contra acontecimentos patentes e constatáveis que maculam sua identidade, sorvam o povo, estampam a mediocridade de uma religião que não representa a verdadeira igreja de Cristo.

Não se pode representar ministério, por uma prática que se sacia de bens materiais, que o povo se enquadra como coadjuvantes de interesses terrenos e antagonistas nos interesses eternos e que a voz da verdade seja reprimida em nome da submissão incondicional. Eu disse incondicional. Honestidade, prudência, santidade e fidelidade à Palavra são vozes emudecidas por uma incondicionalidade que a igreja deve prestar aos que no ministério se encontram e que ao violar tal exigência se vê como movimentadores de motim, hereges, carnais e opositores ao ungido de Deus.
Realmente é triste constatar que ministério passou a ser a exigência dos caprichos de alguns, que vão dos abusos de autoridade às exigências mirabolantes do materialismo que tem sido a teologia deste século.

O que temos a dizer dos escândalos sexuais, financeiros, abusos de poder que se tem instaurado no contexto da igreja brasileira? Não para por aí., a omissão e encobrimento de pecado também tem sido o manto negro da política da não ofensa e da não instabilidade estrutural. Será este o ministério a ser exercido pelos ministros do evangelho no presente século? Tudo é jogado numa “panela” e tratado em nome da “espiritualidade”. e da boa ética.

Aliás, gosto quando Ricardo Barbosa diz “que precisamos de uma espiritualidade mais teológica, que estabeleça fronteiras, que defina os contornos e que firme os fundamentos” (p.25). Entende-se o porquê de tal preocupação. Precisamos restabelecer os princípios da Palavra e pulverizar o falso ritualismo espiritual que serve de cobertura para a falsa identidade cristã.

Cada um possui uma teologia diferente da salvação, da remissão, do perdão. Cada um possui uma teologia diferente da oferta, do dízimo e do serviço. Cada um possui uma teologia diferente do namoro, do casamento e do divórcio. Cada um possui uma teologia da fé que passou a ser comprovada na conquista de bens e do status quo e não na humildade de entender que fé nada mais é do que a fidelidade perene e incondicional de Deus.com cada um de nós. Cada qual prega e exerce o que quer e o que acha conveniente para o seu próprio ego e por aquilo que almeja absorver do povo. Na realidade é o momento que dita o ritmo da hermenêutica. A manipula para dizer que ela não diz. Tudo serve para ser benção e maldição dependendo dos objetivos a serem alcançados. Não fica muito longe de se vê a perspectiva que Jesus lançou sobre os momentos finais que antecederiam a sua volta. O apóstolo Paulo declinou suas ações práticas contrárias ao evangelho no capítulo 3:1-5 da carta a Timóteo.

Estamos perdendo contornos e as fronteiras já não existem, por isso é difícil estabelecer os padrões de um verdadeiro ministério, de uma verdadeira teologia, e de uma verdadeira vida cristã. Na realidade tudo passou a ser de qualquer forma e feito a representar a expressão da verdade sem nenhum critério para o povo de Deus.
Diante de este quadro revertê-lo somente mediante à luz da Palavra, um sincero aquebrantamento de corações e da verificação humilde de quanto Deus está no meio destas coisas.. Ministros precisam entender que são apenas condutores da mensagem do evangelho entre Deus e o povo. Trazem sobre si a responsabilidade de conduzir, e bem, o povo de Deus no caminho de santidade e de salvação. Cabe conduzir o povo em unidade, cabe conduzir o povo em harmonia, cabe a conduzir o povo no trajeto certo da teologia que os faz a cada dia a viver em Cristo e Cristo neles, na possibilidade verdadeira de uma vida em santidade e serem diferentes por atitude de amor, abnegação, altruísmo, compaixão e acima de tudo por atitudes incondicionais ao verdadeiro Pastor da igreja.

Diante disto, precisamos rever os nossos conceitos e práticas do papel importantíssimo em nossa vida como homens e mulheres vocacionados ao ministério por Deus. Exercer o ministério, talvez comece por rever alguns princípios tais como uma atitude menos autoritária e mais serviçal, menos orgulhosa e mais humilde, menos espiritualista e mais espiritual, menos “eu” e mais os outros e ser menos Deus e mais homem.

Por graça somos o que somos.

Rev. Eduardo R. da Silva
Vice-reitor da FTN – abril de 2008

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