Paralelo da história com a atualidade
Lutero foi um monge que viveu no século
XVI com as intempéries da Igreja Católica.
A criação das exigências penitenciais, que
cada vez mais, enredavam o povo aos grilhões da culpa e da dependência de uma
teologia escravagista para enaltecer a glória da Igreja; fez com que o monge
agostiniano se empenhasse nas discussões teológicas contra um evangelho que se
opunha a humildade de vida e a uma fé furtiva de Cristo.
O avanço da história (meio milênio
depois) canalizou um novo olhar para a Igreja e constatou seu avanço ao redor
do mundo na aglutinação e aviltado crescimento de adeptos à conversão de um protestantismo
reconhecido por sua voz efetiva missiológica, cristológica a e teológica.
É fato que ao longo dessa história, a Igreja desempenhou sua missão em fazer avançar o Reino de Deus por esta tríplice característica de sua essência. Seu papel missional, por exemplo, conduziu os perdidos aos pés de Cristo e manteve a imagem da continuidade do ministério do Cristo terreno, envolto em carne, nessa busca e isso ninguém discute. O principal eixo de condução no avanço do Reino, a voz Eterna em registro (teologia e Seu autor), são os pontos em questão a serem debatidos dentro da Igreja atual.
A teologia e o Cristo sempre foram à sacrifício para se obter adaptações as circunstâncias contextuais e engajamento aos interesses religiosos-políticos por parte dos profissionais da fé. Mercantilismo (o evangelho comercial) e espiritualismo (o evangelho sincrético), retratam as várias formas e releitura da Bíblia na Igreja pós-moderna. No tempo medieval a Igreja circunscreveu-se não de poucos homens com valor de estudo bem profundo, o que não constituía álibi para inovações conceituais de uma hermenêutica desvinculada à Revelação e de um colegiado comprometido com uma religiosidade de exclusiva grandeza e poder. A Igreja pós-reforma, negacionista das metanarrativas, re-vive tal realidade hoje. O grito de oposição a estas agressões teológicas, não foi exclusividade da voz do rebelde monge, outros já haviam sinalizado para tais ocorrências há dois séculos antes. Se houve expansão do Reino de Deus territorialmente pós-reforma, também houve, em igual peso, àqueles que passaram a divulgar uma mensagem de desesperanças de um reino envolto por uma teologia lívida as Verdades Eternas e que se tornam cada vez mais inveterada dentro das comunidades cristã na diacronia do tempo.
Na obscura medieval, Lutero presenciou a
atemorizante e incessante busca do povo por libertação do pecado e culpa, o que
não foram atendidos e pesados pelos sacerdotes no alinhavo do evangelho bíblico.
Tanto que o Disputatio pro declaratione virtutis indulgentiarum na
sua “62”: “O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo evangelho da
glória e da graça de Deus” foi o tema
central da preocupação do agostiniano em relação ao que Igreja carregava em
seus ensinos teológicos. Como disse H.
van Riessen “somente o evangelho bíblico revelado por Deus pode dar
esperança.” - Sola Scriptura. A Igreja contemporânea, partícipe da
mentalidade medieval, abre espaço para o consumo do erro, pois “precisa
aprender a falar uma linguagem totalmente nova com o fim de alcançar a geração
pós-moderna” (Kimball). Caminha a favor da ideia da planificação mundial ou
a mentalidade da não crítica dos evangelhos adaptados - um espírito da
busca da vontade própria descompromissada com a santidade de vida e da vazão do
pecado na adoração e louvor na Ortodoxia generosa.
Então, quando a teologia é planificada
para falar essa linguagem de um mundo global se fundamenta na miscigenação da
nulidade da moral ética cristã e na distorção da imagem do Deus apodítico em Seu
estado de existência, amor e Juízo concebidos na Revelação. A consequência é uma fé descompromissada no
aceitar a fidelidade do que Deus é e o compromisso com a crença em tudo que Ele
não é. A diferença de fé e crer é
profunda. O evangelho pregado hoje é servido “à lá carte”, onde o modus operandi
do cristão atual (tendo salvaguardas) é esta crença de conchavar a liberalidade
no que Paulo não discorreu aos Gálatas sobre a liberdade em Cristo. De forma
nenhuma, o teólogo da antropologia, conduziu seu discurso para um sentido de
liberdade libertina e/ou a uma teologia liberal, que neutralizasse a malha da
graça e fizesse da fé Sola Fide a exclusão do Cristo da graça
para se ter “novo tipo de cristão” (McLaren) a crer em toda proposta que
se distancia da fé em Cristo.
Vejamos! Na graça, todos os recursos que
requer o homem para se encontrar inculpável diante da justiça de Cristo em liberdade
foi disponibilizado - Sola Gratia As composições hermenêuticas da
religiosidade judaica na Lei, foram bastante criticadas por Jesus em relação a
este tema e teve embate travado durante todo Seu ministério em relação aos seus
conceituadores: “.... aí de vós intérpretes da lei! Porque sobrecarregai os
homens....” Lc 11:46. As interpretativas do que Deus não disse, não exigiu
e nem estabeleceu como determinantes de Sua graça se mostravam nitidamente acéfala
ao princípio primordial do evangelho do Reino. Deus era segregado de Sua
própria teologia de favor generoso (Agostinho).
Em tempos atuais, Igrejas se apresentam sem a graça. Aviltam a culpa no ser por divulgar o que o evangelho não diz. Culpa sempre foi o sentimento concebido pelas responsabilidades dos atos contrários a Deus, e que a teologia sistemática define como alvo não atingido; assim os mecanismos (pregação e ensino) que emancipa a graça de seu principal alvo (o homem), faz de Deus um mero condenador e o homem um inveterado condenado e culpado em seu alvo não alcançado. Desta forma, caracteriza o Reino de Deus (reino da “desgraça”) e traz à lume somente religiosidade legalista sem compaixão e um reino e rei (feral) que persiste em distanciar a graça do evangelho da Bíblia. O Sermão do Monte contrapõe este reino em fazer conhecer um Deus paterno pela Sua preocupação com o coração humano e por mostrar que ele é regido somente de graça.
Cristo somente Solus Christus concede a alma sua entrada no Reino, pois a hermenêutica da graça é suficiente (dada a cada um - Ef. 4:7) contra as composições heréticas fincadas dentro das Igrejas contemporâneas em seu novo método incongruente de entender as metanarrativas as Sagradas Escrituras. Uma coisa é passível na teologia contemporânea – a pluralidade de caminhos para se fazer chegar à presença de Deus. A psique humana se sentirá tentada “sempre que surge um movimento cristão que se apresenta como reformista ...” (Carson). A culpa não estará perdoada por novas experiências de espiritualidade, que não expressaram amor incondicional Àquele que nos ama e aos que nos ama e que não traga cativa a Cristo a consciência transformada. A pluralidade irá iludir e mascar o “ter a graça de Deus” (gozo do favor de Deus) na expressa imagem do ser criado por Deus.
Onde desejamos chegar?
Se a Reforma foi a deliberação inicial para futuras contraposições que viessem a aviltar, novamente a fuga da principal hermenêutica do ensino bíblico, cuja Igreja é a coluna da Verdade (I Tim 3:15); no decorrer dos anos, a voz de Lutero e seu Disputatio, a favor da (Palavra e o racional claro) deixaram de ser olhados como fatos que se repetiriam em gerações futuras da igreja com outras roupagens. Há uma clara tendência para novas formas de teologia que cada vez mais vem sendo consumidas nas liturgias, cultos e pregações quando declina a competência do evangelho como o arcabouço único e exclusivo para a liberdade do homem em Cristo Jesus.
Como proceder?
Infelizmente, somente ulular a hermenêutica que concilie as exigências do Reino com as da vida cristã do cidadão do Reino, não faz da autoridade de Deus uma realidade na vida da Igreja no mundo pós-moderno. É preciso renunciar às inverdades tão presente nos púlpitos e as incúrias sacerdotais. Precisa trazer a história à lume, onde o irrompimento da culpabilidade, no Jardim do Eden, se deu exatamente pela aceitação a vertentes das pseudoverdades que puseram todos culpáveis diante do Divino da Verdade. Somente a cruz dispensou graça para esta correção. Por isso Lutero gloriou-se na cruz; o mesmo fez Paulo aos Gálatas em seu esclarecimento cristocêntrico: “longe de mim... a não ser a cruz...”. Gal 6: 14. O homem não é o artífice da teologia da cruz. Ele é o dependente da cruz. Na porta do Reino existe a cruz com seu verdadeiro artífice, homem-divino - Soli Deo Glória O homem-humano somente acessa o divino-humano e seu Reino porque a trama da teologia da cruz se compõe de morte, ressurreição, ascensão e domínio eterno e nada mais. Interpolar qualquer outra coisa neste tecido teológico é buscar romper os seus fios numa tentativa de fazer dele “teologia das 17.000 relíquias” remodeladas à luz de uma teologia pós-moderna, para a satisfação de todos, sem o compromisso com o Cristo do evangelho.
Carência de outra Reforma?
Inevitável! Não falo de uma reforma institucional, mas local. O verdadeiro corpo de Cristo deve lutar por sobrelevar a teologia da cruz e do Reino que exalta e dignifica os propósitos do Rei e que exclui as exigências e compromissos com o que é fantasioso e transitório no espiritual e “estranho ao altar” em sua devoção, sob pena de ira divina (Rm 2:8). A Igreja precisa sair do que Lutero escreveu no intitulado “Cativeiro Babilônico”.
A pensar.
Se
a Igreja tem o papel fundamental de fazer o Reino de Deus avançar, cabe as
questões:
1. Para que Reino a Igreja atual está conduzindo os
crucificados de hoje?
2. Qual evangelho está sendo pautado a
mensagem para libertar os não crucificados?
3. Se a teologia e o Cristo vão à sacrifício
em prol do alinhamento as exigências de interesses humanos, o que se espera da
confiabilidade da Igreja e dos que nela divulgam a graça de Deus?
3. Se a hermenêutica é uma palheta variada
de interpretações, o que resta da verdade absoluta divina?
Somos o Lutero de hoje, responsáveis de
pregar e ensinar uma Teologia da Libertação da culpa do pecado que faz a existência
do cristão extática ao Cristo da cruz e a Jesus do Reino? Espero que sim! Nas
eternizadas palavras do Reformador Martin Bucer “é nosso papel sacerdotal
conduzir os perdidos a Cristo”.
31 de outubro 2021
Eduardo Rodrigues da Silva
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Carson, Becoming conversant
Kimball, Emerging Church
MaLaren, A generous orthoudoxy.
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