Vivenciamos dias que
a grande ênfase de uma igreja abençoada é aquela que expressa uma acentuada
atividade, movimentos, ministérios e uma expansão numérica expressiva.
Não deixa de ser
verdade que estas coisas são benéficas e indicadores de um crescimento corporal
da igreja, mas nunca serão indicadores de um crescimento espiritual maduro.
A temática do mundo pós-moderno,
quanto ao avanço do Reino, tem sido caracterizada por uma preocupação
massificada de inflar este tipo de pensamento em nossos dias. Igreja boa é
igreja que se enquadra dentro destas categorias de catalogação humana.
Por isso vemos a
priorização para tanto congressos, conferências e encontros pautados para um
crescimento corporal, carregado de sistematizações e normas como métodos de
avanço ao desenvolvimento da igreja, porém raramente conseguimos pontuar para
um avanço que venha reestruturar o interior da alma e que produza, em primeira
instância, o amor de Deus nos corações tendo como alvo prioritário o seu
semelhante.
Um estudo mais
apurado no livro de Atos e nas cartas de Paulo vamos detectar que as coisas não
são bem assim. A proposta de crescimento e amadurecimento da igreja sempre estiveram
ancorados em cima do que Paulo chama de “caminho mais excelente’, onde ele
escreve uma das mais belas orientações do que realmente deve ser a igreja ( I
Co 13).
Uma das questões que
a igreja deve resgatar é a de ser condutora da salvação aos homens e que todo o
projeto de sua existência tem seu núcleo
na atitude do Eterno: “Deus amou o mundo de tal maneira que se deu...”,
consecutivamente, se o gerador da igreja (Deus - amou) a atitude que ela dever
exercer deve ser idêntica. Deveria ser diferente?
Nesta perspectiva, Paulo
vai tratar com a igreja de Corinto, o verdadeiro significado do seu papel no
contexto onde atua, a espiritualidade não é indicativo de uma igreja sã. Sem
amor, ainda que as línguas dos homens e dos anjos sejam articuladas nada mais
se tornam em uma religiosidade vazia.
Dons não são
indicativos de uma igreja sã. Sem amor, ainda que se exerça qualquer tipo de
dom, até o de profetizar, é somente uma expressão do enaltecimento do eu.
A fé não é um
indicativo de uma igreja sã. Sem amor, ainda que exerça prodígios e milagres,
se torna em um misticismo desenfreado.
Caridade também não é
indicativo de uma igreja sã. Sem amor, ainda que se exerça a prática de doar
todos os bens resulta em uma insana pobreza. O altruísmo, a ponto de doar sua
vida, infelizmente também não se torna um indicativo de uma igreja sã. Sem
amor, ainda que se chegue a tamanha façanha, é martírio sem proveito.
A Bíblia nos ensina
que o verdadeiro crescimento e amadurecimento se processam no fato que cada um
de nós devemos olhar o nosso irmão com os olhos do amor. Qualquer coisa que a
igreja realize e traga como indicativo de crescimento corporal, deve
primeiramente estar fundamentada neste princípio (amor), estabelecido na
presciência de Deus (citado em Efésios 1). que olha e se identifica com o homem
em suas carências nesta peregrinação. Isto deve ficar bem claro em nossa teologia.
A igreja que Deus ama é a igreja que tem em sua prioridade o valor da vida
humana, ou seja, a igreja que ama ao que é feito a imagem e semelhança do
Criador.
Um grande erro do
judaísmo foi ter a Torá como indicativo de uma ordenança castrativa e punitiva
ao próximo, nunca como um ato de amor, no período de Paulo o erro da igreja foi
a sua má hermenêutica das exigências do evangelho que englobava todos carente
da graça de Deus e consecutivamente todos interdependes do amor fraternal. A
igreja medieval errou no separatismo entre o amar e o santificar. Santificar
era rejeição da realidade dos perdidos em pecado e a manutenção da pureza no
claustro dos salvos. Na pré-reforma, a igreja priorizou seus interesses de
conquistas terrenas e concedeu nas indulgências o meio de “amar” aos perdidos na
terra e de abrir uma concessão de morada no Reino eterno diante de Deus. Na
modernidade a igreja priorizou a libertação, não do pecado, mas dos sistemas
sociais e políticos. O amar ficou caracterizado por esta oposição a opressão,
mas não por uma posição que levasse uma conscientização do envolvimento da
igreja com as carências da alma. Amar era libertar a matéria do reino opressivo
humano. Na pós-modernidade, o amar virou sinônimo de interesses. Amar, em boa
parte do contexto religioso evangélico brasileiro, se tornou captação de
recursos materiais dos carentes de amor e a conquista dos carentes de amor em
seus interesses terrenos. Amar se torna a expressão do cuidar não para a eternidade,
mas do cuidar para o terreno. A permissividade destas realidades, independente
da égide que se esteja submetida a igreja é fato e crônico na atualidade.
Contraste final - Todos
os ativos da praticidade cristã em cada membro do corpo (espiritualidade, dom,
crença, caridade e altruísmo) devem ser regidos pelo amor de Cristo na vida da
igreja, caso contrário, toda a sua proposta em dar ênfase a sua construtividade
corporal, não tem nenhum peso diante de Deus. O contraste é bem verificável,
quando o próprio Cristo se refere as igrejas em Apocalipse no cap. 2 e 3. Se o
“ainda que”, traz conforto ao homem em sua manutenção religiosa qualificada
pelo seu senso de aprovação, fatalmente se choca com o “Conheço” no senso de
aprovação de Cristo em Sua exigência divina.
É bom lembrarmos que Paulo,
de forma nenhuma, anula ou deseja dar ênfase que estes cinco princípios não
sejam importantes. Aliás, se verificarmos a teologia de Tiago iremos detectar
como é importante a prática destas coisas na vida da igreja. Porém, elas devem
ser desdobramentos do amor de Cristo em nossos corações para com o nosso
semelhante.
Em suma, a carta que
Paulo escreve a amada igreja de Coríntio é um alerta da futilidade da
religiosidade sem a observância do primordial – o amor.