Fixadas a porta da igreja do Castelo de Winttenberg as 95 teses que divergiam da ICR, Lutero não cogitava que 500 anos depois
a igreja careceria de ser olhada pelos mesmos ângulos das intransigências
teológicas que foram acometidas em seu tempo. Monge, da ordem agostiniana,
serviu a Igreja Católica Apostólica Romana no século XVI, após ter passado por uma
experiência reveladora na Saxônia que o conduziria ao ministério sacerdotal.
Sua vida foi dedicada em esclarecer as verdades bíblicas no que diz respeito â
salvação por meio da fé, quando detectou que a Sé vilipendiava a crença do povo.
“...poenitentiam agite” (fazei obras), em substituição a “...metanoite” (arrependei-vos), Mt. 4:17. Subjugados a força do argumento de um homem destinado a lutar por suas convicções cristãs, o Papado e Roma
presenciaram os novos rumos que a igreja seguiria ao ver a hegemonia Católica
Apostólica Romana esfacelar com as respostas à luz da Palavra que o povo
ouviria no social-político-religioso e não mais nas dogmáticas do colegiado e
dos interesses do poder institucional.
Isto foi a Re-forma.
De fato, grandes
mudanças conduzem na maioria das vezes a conflitos e cisões por interesses
partidários. Não foi o caso de Lutero! Sua luta era pela distorção da mensagem (obras =
salvação). Não trazia, em seu coração
ardente, o cunho de uma nova gênesis denominacional, muito menos mais uma teologia
que se cercasse do descompromisso com o social e a fé das pessoas. Para Lutero,
a relevância de sua luta limitava-se em despertar a fidelidade e a responsabilidade
que deveria o clero ter em primar pelas verdades da revelação divina (fé =
salvação) que deveriam ser
proclamadas ao povo. Os desdobramentos, daí por diante que a igreja alcançaria,
seriam outro momento revolucionário por romper com “modus operandi”
institucional e se volver para a “Opus Dei” no meio do povo.
Mas o que estes 500
anos de Reforma nos ensina além da preocupação com a manutenção da verdade? Vejo
que ela chama atenção para as evidências dos valores éticos que devem se
evidenciados na vida de um cristão e principalmente daquele que almeja o
sacerdócio. Lutero apresentou características primaz no seu compromisso
com Deus e na sua conduta ministerial. Vejamos:
Lutero era um homem destemido. Como todo aquele que defende a verdade, sua vida
fica à deriva de morte por conduzir aos “renegados da fé” a “sola scriptura” a “sola
fide” que distintamente se viam excluídos do Reino dos Céus e submetidos ao
Reino dos homens na obrigatoriedade de participarem com seus méritos. Romper com a
inverdade é a capacidade de poucos, porque isto alavanca a romper com o “status
quo” e com a “zona de conforto” da institucionalização. Lutero foi de valor
destemido por desejar compartilhar a fé aos seus semelhantes, ainda que isto o
levasse a perder o seu prestígio no meio dos homens.
Lutero era um
homem preocupado com seu chamado . Pode
se dizer que Lutero foi um dos primar pela exegese do texto e consecutivamente
por uma homilia sadia que expressasse a hermenêutica correta, ou seja, a de
nenhuma contribuição do ser mortal no plano salvífico de Deus, mas da pura
aceitação da graça divina meritória somente a Cristo Jesus.
A pregação exegética
da Palavra de Deus deve ser a missão irrevogável de cada pregador. Se
atentarmos bem, este foi o fator que trouxe mudanças acentuadas na mensagem de
salvação, de maneira que, não só produziu o surgimento de várias igrejas, como
também acionou o dispositivo da proclamação ao mundo de um Deus que salvou a
humanidade fora dos dogmas e opressões exercidas por uma má condução da
verdade. Mutações teológicas na igreja serão sempre um dispositivo que se terá
que ter cuidado – isto já era preocupação do apóstolo Paulo (contra a filosofia helênica,
misticismo, legalismo judaico, asceticismo), Judas (contra as heresias que corroíam a fé) e João (contra
o pré-gnosticismo). O que a igreja hoje precisa para ser edificada? De
pregadores que se comprometam em pregar a verdade de maneira a expor a verdade
bíblica - isto é assumir um compromisso
com o seu chamado e com Deus.
Lutero era um
homem comprometido com a expansão do Reino. O tempo correu e a igreja floriu! Denominações surgiram em vários
lugares (das que vieram das tradições as que romperam com elas), bem como às
múltiplas matizes teológicas (da ortodoxia ao neopentecostalismo) se
enfronharam no avanço da mensagem de salvação na Europa, Américas, Ásia, África
e Oceania como desdobramento da Reforma. Porém, o alvo eterno, que a Reforma de
Lutero nos legou, não foi à relevância da expansão denominacional ou a detenção
que cada um fez ou faz da particular interpretação das Sagradas Escrituras.
Não! Foi a de conduzir o povo de todas as línguas e raças a compreenderem a um
Cristo que veio instaurar o Reino de Deus e não o reino de homens. De aceitar
um Cristo de só uma mensagem (arrependei-vos)
e não das interpolações, deduções e interpretações humanas que caracterizam a
manutenção, a exclusividade e detenção de verdades dogmatizadas, principalmente
as que vemos hoje. A mensagem do Reino é aquela que conduziu, por meio da fé,
muitos à glória eterna e, que nesta história ainda mantém muitos na permanência
do exercício de sua total dependência de Deus e do Reino como exercício da fé e
do alvo das bênçãos celestiais respectivamente.
Lutero um homem
comprometido com a verdade. A
história da reforma não traz consigo somente os bons ventos. Esta jornada
também carrega as tempestades que levam aos desvios heréticos dos fundamentos
estabelecidos na Palavra de Deus à Sua Igreja. A decadência moral, os
interesses pelo poder eclesiástico, o merchandising na preservação e propagação
filosófica de ministério, a teologia antropocêntrica e o humanismo, não são
linhas de pensamentos, experimentados no contexto das igrejas evangélicas na
atualidade? Não são evidências paralelas aos dias de Lutero? O reformador não
somente atacou uma proclamação “fasum” como também se opôs a estas distorções
cultivadas no meio do sacerdócio em nome de uma religião de Deus e que,
infelizmente é presente em boa parte das igrejas do século XXI. Quando Paulo
escreve a carta aos Efésios, escreve um “verum” manual eclesiológico
fundamentando a doutrina e a prática cristã como as essências da composição da
igreja planificada por Deus na eternidade. O pensamento é claro! Combater as
distorções teológicas e práticas que se efetivavam na vida da igreja naquele
século e nos vindouros. Que o nosso compromisso seja com à verdade mais do que
somente proclamação, mas rompimento com tudo
que a fere.
Concluindo: a Reforma
completa meio milênio. Então é hora de repensar que tipos de reformas carecem
serem feitas em nossas igrejas do século XXI? Talvez começar por quais qualificações
(dons e caráter) ao se indicar alguém para o ministério no meio de nossas igrejas;
trazer em pauta a discussão sobre o que é Reino de Deus e reino humano denominacional, na atual
conjuntura social. Retomar os princípios da pregação exegética como prioridade
de compromisso do chamado, no propósito único e exclusivo de pregar a verdade e
edificar o Corpo de Cristo aviltado por uma cosmovisão religiosa que se nutre das diversas teologias da satisfação do eu.
Sola fide, Sola Scriptura, Solus Christus, Sola Gratia, Soli Deo Gloria.
Que Deus nos abençoe
e nos ajude!
Amém!
31 de outubro de 2017
Eduardo R. da Silva